segunda-feira, 9 de junho de 2008
Repórter obtém receita médica de maconha para 'ansiedade' na Califórnia
David Willis
Da BBC em Los Angeles
O consumo de maconha é proibido pelo governo federal nos Estados Unidos, mas a erva pode ser receitada para uso medicinal por pacientes sofrendo de doenças graves no Estado da Califórnia.
Os benefícios da cannabis para doentes com câncer, Aids, artrite, esclerose múltipla e outras condições debilitantes são amplamente documentados. Segundo os usuários, ela torna os sintomas mais suportáveis.
Estima-se que cerca de 250 mil californianos possuam receitas que os autorizam a consumir o que se entende como "maconha medicinal".
Mas não é preciso sofrer de doenças terminais para conseguir uma receita. Depois de fazer uma busca no site de pesquisas Google digitando as palavras "medicinal marijuana" e "Los Angeles", obtive uma longa lista de clínicas onde "pacientes qualificados" podem obter uma recomendação médica autorizando-os a usar maconha legalmente.
Uma das clínicas, o 420 Evaluation Centre, localizado em San Fernando Valley, um subúrbio de Los Angeles, oferecia um desconto de US$ 25 para novos pacientes. O termo 420 é uma gíria local para maconha.
Consulta
Marquei uma consulta. Ao chegar, paguei US$ 100 e preenchi um questionário com dados pessoais. Em uma seção do questionário, respondi perguntas sobre minha condição.
De acordo com as regras, o paciente deve estar sofrendo de doenças graves ou sentindo dor crônica para se qualificar. O melhor que pude imaginar foi escrever que sofro de ansiedade. Afinal, sou do tipo ansioso.
O médico, um vietnamita que se apresentou como doutor Do, tomou meu pulso, mediu minha pressão sangüínea e perguntou há quanto tempo eu me sentia ansioso. "Há vários anos", respondi.
"Você sofre de ataques de pânico?", perguntou o médico. "Não". Do escreveu "ataques de pânico" em seu livro de anotações.
Depois de passarmos alguns minutos falando sobre a culinária asiática, Do assinou uma receita para maconha medicinal, válida por um ano.
Caverna de Aladim
Com mais de 200 farmácias de maconha medicinal operando legalmente na região, os traficantes de rua ficaram obsoletos.
O governo do Estado, por sua vez, está satisfeito, já que sua fatia de impostos está garantida.
Ainda assim, com algumas farmácias instalando máquinas automáticas para lidar com pacientes fora do horário comercial, é difícil você não se perguntar se a situação não estaria correndo o risco de virar uma comédia.
A uma distância curta da clínica fica uma das lojas preferidas dos usuários, votada "farmácia do ano" por uma das revistas lidas pela comunidade de maconheiros. A publicação mais famosa intitula-se High Times.
A loja é uma verdadeira Caverna de Aladim dos narcóticos. Sob o balcão de vidro, estavam dezenas de variedades de cannabis em potes de plástico. Ao lado, um arsenal de objetos usados no consumo, entre eles, cachimbos.
Fumar e tragar
As variedades tinham nomes exóticos, como Sonho Azul e Devastação do Super Trem (em tradução livre).
Para sintomas como ansiedade, o atendente recomendou uma variedade conhecida como Travesseiro Púrpura. A receita não estipulava quantidade.
"Quanto devo usar?", perguntei. Pego de surpresa, o vendedor respondeu: "Acho que você poderia começar tragando duas ou três vezes e ver o que acontece".
Eu não comprei a maconha e estou pensando em, um dia, colocar minha receita em uma moldura e pendurá-la na parede.
Nesse meio tempo, parafraseando (o ex-presidente americano) Bill Clinton, se eu fumar, certamente não vou tragar.
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