Da BBC Brasil em São Paulo
Em um momento em que a economia dos Estados Unidos ainda luta para voltar a crescer e que a taxa de desemprego é de quase 9% no país, mais cidadãos americanos têm enxergado oportunidades profissionais no Brasil.
O número é mais do dobro do total de vistos profissionais dados a americanos em 2006. E os Estados Unidos seguem sendo o país que mais envia trabalhadores legalizados para o Brasil.
"As oportunidades estão acontecendo aqui no Brasil, especialmente para pessoas de outras culturas", opina a americana Marcela Lizarraga, que veio com o marido, o executivo José Lizarraga, para São Paulo, há um ano, para trabalhar no setor hoteleiro.
No Brasil, José acabou se transferindo para uma empresa fornecedora de tecnologia de aviação e deve ficar mais um ano e meio no país.
Salários
Dados da agência de recursos humanos Manpower citados em janeiro na revista Economist apontam que 64% dos empregadores brasileiros sentem dificuldades para preencher suas vagas em aberto.
A revista acrescentou que, enquanto o Brasil coloca no mercado cerca de 35 mil engenheiros por ano, a China forma 400 mil desses profissionais anualmente.
A falta de trabalhadores puxa os salários para cima: executivos em São Paulo já estão ganhando mais do que seus pares em Nova York, Cingapura ou Hong Kong.
"Os pacotes de remuneração das empresas brasileiras estão muito atraentes", confirma Olavo Chiaradia, da consultoria Hay Group.
Nesse contexto, o professor da Escola de Economia da FGV-SP André Portela vê como positiva a vinda de mais estrangeiros para o Brasil.
"Os benefícios são maiores que eventuais desvantagens. É uma chance de trazer mão de obra que vai difundir conhecimento a curto prazo. É mais barato trazê-los do que esperar a formação dos trabalhadores brasileiros (em setores com escassez)."
Mas o professor adverte: "A longo prazo, enquanto ainda estamos crecendo, precisamos de investimentos em educação para atender nossa demanda por produtividade."
Interesse crescente
A visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil, prevista para o próximo fim de semana, também contribui para um clima de entusiasmo nas relações comercias entre os dois países.
Quatro empresas de recrutamento consultadas pela BBC Brasil confirmam o crescente interesse de americanos pelo mercado brasileiro.
"Não é um interesse exclusivo dos americanos, mas, como nossa relação comercial é grande, o número de cidadãos dos Estados Unidos (que vêm ao Brasil) é grande também", diz Renato Gutierrez, da consultoria Mercer. "E há muitas empresas americanas adquirindo brasileiras, e vice-versa."
"Sempre vimos um movimento de europeus (rumo ao) Brasil, mas não de americanos. Eles estão identificando oportunidades aqui", afirma Jacques Sarfatti, da empresa de headhunting Russell Reynolds.
A situação brasileira se repete em outros países emergentes, que também estão recebendo maior mão de obra estrangeira.
Energia
O setor de energia é apontado como o mais procurado, por causa das descobertas do pré-sal e dos investimentos em combustíveis. Mas especialistas dizem que há interesse dos estrangeiros também pelas áreas de infraestrutura, mineração, siderurgia, varejo e mercado financeiro.
Na Welcome Expats, empresa de auxílio a expatriados com base em Macaé (RJ), a procura por seus serviços dobrou desde 2009, principalmente por causa do crescimento da indústria petroleira na cidade fluminense.
"E vai aumentar. Escuto empresas falando que vão trazer mais mil pessoas (do exterior)", diz Mônica de Mello, sócia da Welcome Expats.
Segundo ela, 80% de seus clientes são americanos. Muitos têm experiência no setor de petróleo e gás e vieram para o Brasil após a explosão da plataforma Deepwater Horizon, no Golfo do México, em abril passado.
A advogada Ziara Abud, especializada em vistos para estrangeiros, afirma que a maioria das solicitações é para vistos de dois anos ou de 90 dias a um ano (em geral, para técnicos que vêm para treinar mão de obra local).
Dificuldades
Mas, em meio às oportunidades, os profissionais estrangeiros também encontram empecilhos no Brasil.
Fernando Mantovani, diretor de operações da empresa de recrutamento Robert Half, diz que, à exceção dos mercados financeiro e de petróleo e gás, ainda existem restrições à contratação de americanos pela dificuldade deles com o idioma e a cultura de trabalho.
"Ainda vai demorar para nos acostumarmos com esse fluxo (migratório) inverso", afirma Mantovani.
"Eles se surpreendem que poucos falam inglês aqui", conta Marilena Britto, da empresa de auxílio a expatriados Settling-In. Outras dificuldades, segundo ela, são a burocracia para a obtenção de documentos, o alto custo de vida nos grandes centros brasileiros e as preocupações com segurança pessoal.
"Por outro lado, eles gostam do estilo de vida, da oferta cultural e da qualidade dos serviços médicos", ressalta Britto. "Muitos ficam por pouco tempo, mas demonstram vontade de voltar ao Brasil."
Para Sarfatti, da Russell Reynolds, "o estímulo aos americanos são as oportunidades imediatas, algo de curto prazo, para se realizar profissionalmente. Mas acho que está se abrindo um canal (de intercâmbio profissional) que pode virar duradouro."
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