Claudia Jardim
De Caracas para a BBC Brasil
Centenas de militares e policiais equatorianos tomaram nesta quinta-feira o maior quartel de Quito e o aeroporto internacional da cidade, em protesto contra um decreto aprovado pelo Congresso Nacional.
O vice-chanceler do Equador, Kinto Luccas, disse à BBC Brasil que "há risco de golpe de Estado" no país.
"O que estamos vendo é que há setores da oposição que estão insuflando essa situação para levar a um golpe de Estado", afirmou Luccas.
O Aeroporto Internacional da capital equatoriana, o Mariscal Sucre, foi tomado por efetivos da Força Aérea Equatoriana e permanece fechado.
Gás lacrimogêneo
Segundo testemunhas, as forças de segurança usaram bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes durante os protestos.
O presidente do Equador, Rafael Correa, se dirigiu até o quartel tomado pelos policiais e foi recebido com ofensas e pedras.
“Não daremos um passo atrás, se querem tomar os quartéis, se querem deixar os cidadãos indefesos e se querem trair sua missão de policiais, façam isso", afirmou Correa, diante de centenas de policiais.
“Senhores, se querem matar o presidente, aqui estou, matem-me se quiserem, matem se têm poder, matem se têm coragem, em vez de se esconderem entre a multidão", gritou o presidente, visivelmente irritado com a situação.
Acessos fechados
A imprensa local afirma que os protestos tiveram adesão dos militares e policiais na cidade de Guayaquil (sudoeste do país), reduto da oposição a Rafael Correa. As principais vias de acesso a Quito foram fechadas.
Diante da crise, Correa poderá dissolver o Congresso, nas próximas horas, utilizando um mecanismo legal chamado "morte cruzada" que permite o fechamento do Parlamento e a convocação de eleições antecipadas para Presidente e para o Parlamento.
O vice-chanceler disse ter alertado os governos da região – em especial Brasil, Venezuela e Argentina – sobre a crise política no país, pedindo ações em defesa da ordem constitucional.
"Não estamos pedindo a defesa do governo e sim da democracia equatoriana", afirmou Luccas.
Essa é a primeira grande crise institucional que Rafael Correa enfrenta desde que assumiu o poder, em 2007, e deu início à chamada "Revolução Cidadã" no país.
Condecorações
Os policiais recebiam condecorações a cada cinco anos, o que significava um aumento salarial, além de bônus anuais. O decreto elimina esses benefícios.
Entretanto, Miguel Carvajal, ministro de Segurança, disse que o decreto não afeta os salários dos policiais, ao explicar que os bônus antes recebidos a cada cinco anos passaram a ser nivelados e incorporados ao pagamento dos oficiais.
A seu ver, a crise está sendo gerada por uma campanha de "desinformação" que busca "utilizar" os policiais para obter fins políticos.
"Isso é uma campanha de desinformação. Há que se perguntar quem são os que têm interesse em desinformar", disse Carvajal. "Policiais, não se deixem manipular", acrescentou.
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