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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Prefeito italiano abre porta para refugiados e revitaliza vilarejo

RIACE
Lucy Ash

O prefeito de uma pequena cidade italiana criou um programa que não apenas está impedindo o êxodo em massa que ameaçava o futuro do vilarejo como também vem gerando empregos e oferecendo uma resposta para o problema dos refugiados que desembarcam constantemente nas praias italianas.

A cidade de Riace, nas encostas de uma montanha de onde se avista o mar Jônico, tem 1,7 mil habitantes. Ela fica na Calábria, uma das regiões mais pobres da Itália e palco, no ano passado, de uma revolta motivada por tensões raciais.

Em janeiro de 2010, dezenas de manifestantes e policiais ficaram feridos na cidade de Rosarno, próxima de Riace, após um grupo de jovens brancos ter disparado rifles de ar contra africanos que trabalhavam em um campo no local.

Em Riace, no entanto, imigrantes são mais do que bem-vindos: eles são incentivados a ir morar na cidade e participar do esquema que o prefeito Domenico Lucano criou para eles.

Círculo Virtuoso

Mais de 200 refugiados de doze países africanos trabalham e vivem na cidade junto aos moradores locais.
Várias casas, abandonadas durante décadas, hoje funcionam como ateliês de artesanato ou moradias para os refugiados.

A escola local foi reaberta e hoje é frequentada pelos filhos dos refugiados.

As vozes das crianças ecoam na praça e entre as paredes e os arcos medievais da cidade. O som vem do belo Palazzo Pinnaro, reformado recentemente.

Na sala de aula, meninos e meninas da Somália, Albânia, Iraque e outros países recitam um poema italiano. Algumas tropeçam nas palavras, outras já estão fluentes.

Domenico Lucano, ex-professor escolar, disse que as crianças são rápidas. "Em cinco ou seis meses já ficam fluentes", disse o prefeito, que, como candidato de uma coalizão cívica - sem ligações com partidos -, foi eleito pela primeira vez em 2004 e reeleito em 2009.

"Eles me deixam orgulhoso e me dão esperança de que esse lugar tenha um futuro. Em 2000, nossa escola foi fechada porque tínhamos tão poucos alunos. Hoje ela está florescendo".

Lucano vem atraindo atenção internacional. Recentemente, alcançou o terceiro lugar em uma competição que elegeu o melhor prefeito do mundo.

Hoje ele chama sua cidade de Citta Futura - ou Cidade do Futuro.

E conta que tudo começou há 12 anos, quando ele - na época professor - viu um grupo de refugiados curdos desembarcando na praia próxima da cidade.

No início, Lucano ajudou a arranjar abrigo para eles. Seis anos mais tarde, quando foi eleito prefeito, pôde fazer mais pelos refugiados e pelo vilarejo que vinha sendo aos poucos abandonado.

"Isto aqui era uma cidade fantasma quando aquele barco chegou", diz o prefeito.

Vidas Transformadas

Em uma casa em uma ruela estreita, uma jovem chamada Lubaba fabrica ornamentos de vidro.

Separada de seus pais no conflito entre a Etiópia e a Eritreia, ela sofreu abuso quando trabalhava como empregada em Addis Abeba e acabou fugindo para a Itália.

Lubaba chegou grávida em um pequeno barco que carregava 250 pessoas. "A viagem foi horrível. Estávamos amassados como sardinhas e o mar estava revolto. Eu tinha muita sede mas não havia nada para beber".

Hoje, ela diz, sua vida foi transformada.

O programa criado por Lucano também impediu que moradores locais deixassem o vilarejo.

Sentada do outro lado da mesa, a italiana Irene também trabalha com vidro. Ela conta que a maioria dos seus amigos e parentes seguiu para o norte à procura de empregos.

Ela, no entanto, conseguiu um trabalho de meio-período na oficina de vidro e na loja onde os produtos são vendidos aos turistas.

Irena é uma entre 13 habitantes de Riace que recebem um salário de 700 euros por mês graças ao programa de integração.

O governo italiano paga cerca de 20 euros por dia para cada refugiado. O dinheiro cobre acomodação, alimento, despesas médicas, treinamento profissional e educação para as crianças.

Lucano argumenta que, nesses tempos de crise, o governo está fazendo um ótimo negócio. O prefeito calcula que seu programa custe quase quatro vezes mais barato do que manter refugiados em centros de detenção.

'Intimidação'

Mas nem todos aprovam o projeto do prefeito.

Lucano aponta para dois buracos feitos por tiros de revólver em uma porta de vidro.

Segundo ele, são evidências de intimidação por parte da máfia calabresa, a poderosa Ndrangheta.

O prefeito diz que a máfia não gosta do modelo de integração criado por ele porque o programa funciona e coloca em cheque o controle da organização sobre a região.

"Não vamos ser intimidados", ele diz. "Há muitas coisas em jogo".

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Futebol não é solidário nem na gripe


Emir Sader, para Carta Maior

A atitude das equipes que deveriam jogar no México – o São Paulo e o Nacional do Uruguai – negando-se a jogar naquele país, assim como os países que negaram a receber a partida dos times mexicanos, revela um egoísmo inaceitável.

A gripe surgiu no México, mas poderia ter surgido em qualquer outro pais do continente. As condições para se defender de uma epidemia como essa são praticamente iguais, igualmente ruins em todos os países, menos em Cuba – pela medicina social que o país tem. Se originou no México, o país tomou todas as medidas possíveis nas condições de uma grande metrópole como a capital, chegou a suspender aulas, missas e todo tipo de concentração. Essas medidas já foram suspensas. Com as cautelas do caso, o país voltou a funcionar, se poderia perfeitamente jogar lá.

A Conmebol procurou inicialmente outros países que pudessem sediar as partidas programadas para o México. Chile e Colômbia foram sondados, mas se negaram a sediar jogos de equipes mexicanas. Em seguida a Conmebol tomou a atitude unilateral e injusta de programar um único jogo, no Uruguai e no Brasil, cancelando os jogos no México. A Federação mexicana, com razão, não aceitou a decisão, considerando-a injusta e discrminatória, rompendo suas relações com a Conmebol e retirando seus times da Libertadores.

A atitude da Conmebol e das duas equipes beneficiadas – o São Paulo e o Nacional do Uruguai, que se negaram a jogar no México – é odiosa. Se valem da epidemia para tirar vantagens, discriminando os clubes mexicanos e devem ser repudiadas. No entanto a imprensa esportiva dos dois países considera normal essa vantagem, como se fosse uma punição disciplinar aos clubes mexicanos, por ser o pais de origem da epidemia. Esconde uma discriminação que deveria ser denunciada e repudiada. Sempre se poderiam encontrar condições, inclusive as que a Federação mexicana utiliza, de jogos sem publico, ou buscar outras datas.

A solução demonstra uma total falta de solidariedade das equipes de futebol, tornadas empresas com fins de muito lucro. Não acompanham os processos de integração e solidariedade continental, que tem caracterizado e notabilizado a América Latina. São empresas globalizadas, operadas por negociantes, sem raízes no nosso continente, apenas enraizadas no sucesso financeiro e midiático dos seus empreendimentos.

Atribui-se a Otto Lara Rezende a frase: “Os mineiros só são solidários no câncer”. O futebol profissional não é solidário nem na gripe. Ao contrário, busca faturar com a desgraça alheia, sem se dar conta que é sua própria desgraça.