13 de
dezembro de
2018,
17h59
Maconha causa câncer; agrotóxicos não fazem mal à saúde; escolas públicas promovem erotização infantil; PT tem ligações com o PCC. Informações falsas ou controversas têm pontuado declarações de ministros anunciados pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), mostra levantamento de Aos Fatos em posts e vídeos nas redes sociais, em reportagens e em entrevistas concedidas pelos novos integrantes do primeiro escalão do Executivo federal.
Confira abaixo o que encontramos.
1
Erotização infantil e satanismo
Damares Alves,
futura ministra de Direitos Humanos, da Família e dos Direitos da
Mulher notabiliza-se por palestras, todas disponíveis online, onde
aborda temas que se destacaram entre as notícias falsas propagadas nas
eleições presidenciais. Exemplo disso são as hipóteses de que as
crianças são erotizadas ou receberam ‘kit satânico’ nas escolas
públicas.
Para defender a existência de uma suposta erotização infantil, Damares distorceu, em uma palestra de 2013, a origem e a faixa etária indicada de cartilhas educativas. Na ocasião, ela afirmou que o livro francês Aparelho Sexual e Cia
( Zep, pseudônimo do suíço Phillipe Chappuis, e Hélène Bruller, 2007) é
vendido para crianças de 2 a 3 anos. A editora da publicação no Brasil,
a Companhia das Letras
afirmou, porém, que o livro destina-se a adolescentes. Nos últimos
meses, as redes sociais foram tomadas por vídeos, imagens e links que
afirmavam categoricamente que a obra era parte do famigerado ‘kit gay’, o
projeto Escola Sem Homofobia, o que não é verdade. A informação falsa
chegou a ser propagada inclusive pelo presidente eleito Bolsonaro em entrevista ao Jornal Nacional.
Na mesma palestra, a agora futura ministra também
disseminou informações falsas ao dizer que a gestão de Marta Suplicy
(ex-PT, hoje MDB) na Prefeitura de São Paulo contratou uma ONG para "ensinar professores de creches sobre ereção de bebês e masturbação". Como fonte, Damares citava uma reportagem de 2004 do Estado de S. Paulo, que, por sua vez, não traz a informação citada por ela na palestra.
O que o jornal denunciou, na verdade, foi a contratação dos
serviços do Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual (GTPOS),
ONG ligada à própria Marta Suplicy, "para desenvolver um projeto de
sexualidade e direitos reprodutivos nas escolas". Não há qualquer menção
a “ereção de bebês”.
Já em uma palestra em 2016,
Damares afirmou que um "kit satânico" estaria sendo distribuído nas
escolas pelo governo, mas essa informação provou-se falsa, como Aos Fatos checou durante as eleições. Na realidade, o kit nada mais era do que o material de apoio ao projeto educacional BÚ! Histórias de Medo e Coragem.
Distribuído em algumas escolas, o material pretendia
incentivar os alunos a produzirem conteúdos sobre medos e coragem por
meio da leitura e produção de contos. Esse projeto é uma das ações de
incentivo a literatura do Programa Endesa Brasil de Educação e Cultura e
do Ministério da Cultura.
Damares Alves é advogada e pastora da Igreja do Evangelho
Quadrangular. Sua carreira política começou em meados de 2010, quando
trabalhou para o senador Arolde de Oliveira (PSD). Desde 2015, ela é
assessora parlamentar do senador Magno Malta (PR).
2
Maconha causa câncer
O futuro ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM),
já divulgou informações controversas sobre o consumo de maconha durante
uma audiência da Comissão da Seguridade Social e Família de maio de 2015
na Câmara dos Deputados. Para ele, não há sentido legalizar a droga, já
que ela “dá câncer”.
Nesse mesmo discurso, Mandetta chegou a ironizar o consumo da erva
dizendo que: “se o cara começa na maconha, passa pra cocaína, vai no
crack, acaba votando no PT no final do processo todo”.
Por mais que o consumo de maconha traga riscos à saúde, como o aparecimento de sintomas de bronquite crônica e interferências em funções cognitivas e motoras, ainda não é possível correlacionar o câncer com a droga. Segundo o estudo de 2015 “An epidemiologic review of marijuana and cancer: an update”,
da revista Cancer, Epidemiology, Biomarkers & Prevention, que
reuniu 34 estudos epidemiológicos sobre maconha e câncer, não há como
ter certeza se o consumo aumenta o risco de contrair a doença.
Um estudo deste ano,
publicado na revista americana Chest, revisou outros artigos que tratam
somente da correlação com doenças do pulmão. Segundo o artigo, “um
grande estudo de corte e uma análise conjunta de seis estudos de caso
bem realizados não encontraram evidências de uma ligação entre o fumo de
maconha e o câncer de pulmão”.
Os dois estudos citados apontam que os riscos só serão
realmente conhecidos quando forem realizadas mais pesquisas em
comunidades onde o acesso a droga é maior (como acontece com o cigarro
de tabaco, por exemplo).
Mandetta
é médico ortopedista e entrou para a política em 2005, quando assumiu a
pasta de Saúde da prefeitura de Campo Grande (MS), durante o governo de
Nelson Trad Filho (MDB). Em 2010 foi eleito deputado federal, cargo no
qual permanece até hoje. Também foi presidente da Unimed da capital de
Mato Grosso do Sul de 2001 a 2004.
3
Conservadorismo brasileiro
Quando aceitou o convite de Bolsonaro, o futuro ministro da
Educação, Ricardo Veléz Rodriguez, disse que adotaria uma posição de
“elaboração de normas no contexto da preservação de valores caros à
sociedade brasileira, que, na sua essência, é conservadora”.
Porém, o resultado das duas últimas pesquisas nacionais sobre a
aceitação de pautas e visões conservadoras e progressistas no país
mostram uma realidade distinta.
O levantamento realizado pelo Datafolha
concluiu que a maioria das pessoas acredita que imigrantes “contribuem
com o desenvolvimento e a cultura” (70%), que a homossexualidade “deve
ser aceita por toda a sociedade” (74%) e que os cidadãos não deveriam
ter o direito à posse de armas (55%). Tais resultados aproximam a
opinião pública da visão progressista.
A pesquisa do Ideia Big Data,
por sua vez, apontou que 65,5% dos brasileiros acreditam que pessoas do
mesmo sexo devem ter o direito de se casar; que 62,6% concordam que
esses casais possam adotar crianças; e que 62,4% acham que direitos
humanos devem valer para todos, incluindo bandidos. As posições também
são distintas do pensamento conservador a que Veléz Rodriguez se
referia.
Por outro lado, os brasileiros são, de fato, mais
conservadores quando o assunto é a liberação de drogas e do aborto, de
acordo com os dois levantamentos: 55,4% não acham que a maconha deve ser
legalizada, segundo o Ideia Big Data. A regulamentação do aborto é
reprovada por 70% dos entrevistados pelo Datafolha.
Ricardo Veléz Rodriguez é professor-colaborador do Programa
de Pós-Graduação em Ciência da Religião da UFJF (Universidade Federal
de Juiz de Fora). Em suas falas, já se posicionou favoravelmente ao
Escola Sem Partido e criticou o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Foi indicado pelo professor Olavo de Carvalho logo após a bancada evangélica se posicionar contra o primeiro nome, do educador Mozart Neves.
4
Agrotóxico como remédio
“Tenho certeza de que não há ‘veneno’ nenhum.
É discurso porque, primeiro, as pessoas só usam defensivos quando
necessário, como remédios”, disse a deputada federal e futura ministra
da Agricultura Tereza Cristina (DEM-MS) em um evento na Câmara de Campo
Grande em junho deste ano. Defensora ferrenha do uso do agrotóxicos, a
líder da bancada ruralista na Câmara Federal foi apelidada por seus
colegas de Musa Veneno pelo empenho na tramitação do PL 6299/2002, que flexibiliza regras de controle de agrotóxicos no Brasil.
A certeza de que os defensivos agrícolas não causam mal à saúde vai, porém, contra diversos estudos científicos, como o Science and Total Environment
de 2017. Segundo a pesquisa, que reuniu a bibliografia de diversos
outros artigos sobre o tema, “as associações estatísticas entre a
exposição a certos agrotóxicos e a incidência de algumas doenças são
convincentes e não podem ser ignoradas”, ainda que seja difícil elucidar
os impactos dos produtos na saúde humana devido a vários fatores, como
tipo de pesticida, tempo de exposição e características ambientais.
Os dados disponíveis sobre danos à saúde causados pelos
defensivos no Brasil também são alarmantes. Foram registrados 4.003
casos de intoxicações por agrotóxicos agrícolas no país em 2017, cerca
de 11 por dia, segundo o Ministério da Saúde e a Fundação Fiocruz.
Dentre os efeitos mais preocupantes associados à exposição a
agrotóxicos, segundo o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes
da Silva, “os mais preocupantes são as intoxicações crônicas,
caracterizadas por infertilidade, impotência, abortos, malformações ,
neurotoxicidade, manifestada através de distúrbios cognitivos e
comportamentais e quadros de neuropatia e desregulação hormonal,
ocorrendo também em adolescentes, causando impacto negativo sobre o seu
crescimento e desenvolvimento dentre outros desfechos durante esse
período”. As informações constam do Dossiê Científico e Técnico contra o
PL 6299/02 (parte 1 e parte 2).
Já o Atlas dos Agrotóxicos
calcula que, de 2007 a 2014, pelo menos 1.186 pessoas morreram
intoxicadas por defensivos agrícolas, uma média de 148 mortes por ano.
Ainda assim, o documento alerta para uma subnotificação das ocorrências:
calcula-se que, para cada caso de intoxicação notificada, outros 50 não
sejam notificados.
Tereza Cristina
é engenheira agrônoma, produtora rural e deputada federal pelo Mato
Grosso do Sul desde 2015, quando ainda era filiada ao PSB. Ela foi uma
das responsáveis pelo apoio declarado da Frente Parlamentar da
Agropecuária (que reúne hoje 262 parlamentares) a Jair Bolsonaro ainda
antes do primeiro turno das eleições.
5
Nazismo era de esquerda
O futuro ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (Novo), publicou em setembro deste ano um artigo
na plataforma Medium em que sustenta que o nazismo era parte da
esquerda e classificou o movimento liderado por Adolf Hitler de
“socialismo de preto” (em um paralelo com o comunismo, que seria o
“socialismo de vermelho”).
A informação, claro, é falsa, mas chegou a circular com tal força que a Embaixada da Alemanha no Brasil fez um vídeo
explicando a história do nazismo naquele país e explicando que o
movimento era uma ideologia cunhada na extrema-direita: "devemos nos
opor aos extremistas de direita, não devemos ignorar, temos que mostrar
nossa cara contra neonazistas e antissemitas".
Ricardo de Aquino Salles
foi candidato a deputado federal pelo Partido Novo nessas eleições, mas
não conseguiu ser eleito. Antes da pasta, o advogado também foi
secretário do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) e também
ocupou a pasta de Meio Ambiente paulista durante o governo tucano.
Durante a campanha eleitoral deste ano, ele defendeu uma política da “Tolerância Zero”
em que propunha balas de fuzil como a solução para questões como “praga
do javali” e “esquerda e o MST”. O partido Novo, ao qual Salles é
filiado, manifestou-se dizendo que não aprovava a mensagem.
6
Pesquisas fake por Bolsonaro
O futuro ministro da Secretaria Geral da Presidência e
coordenador da campanha vitoriosa de Jair Bolsonaro, Gustavo Bebianno
(PSL), já lançou mão de pesquisas falsas em favor do seu candidato em
publicações no Instagram, rede social que mais usa.
A primeira era uma suposta pesquisa de político mais honesto do Brasil.
A imagem compartilhada por Bebianno é de um post do site Hoje Notícias,
que já foi tirado do ar. A Fundação Transparência Política
Internacional, à qual é atribuído o ranking, também não existe. Um
versão semelhante da notícia falsa publicada por Bebianno já foi checada por Aos Fatos, durante o período eleitoral.
Outra falsa pesquisa compartilhada por Bebianno foi sobre apoio feminino a Bolsonaro.
Ele compartilhou a imagem de um post do site Jornal Publi Cidade sobre
um suposto aumento do apoio das mulheres por conta da defesa à castração
química de estupradores. O texto do próprio post contradiz o título ao
não mencionar nenhuma pesquisa e ao citar como fonte da informação uma reportagem do UOL
com entrevistas de simpatizantes de Bolsonaro. A reportagem do UOL, de
junho desse ano, cita a rejeição das mulheres, de acordo com pesquisas
de intenção de votos da época, e busca entender o que motivava as que
apoiavam o então candidato do PSL.
Advogado, Bebianno aproximou-se de Bolsonaro em 2017 e, no
começo de 2018, assumiu a presidência do PSL, logo após a filiação do
hoje presidente eleito. A partir daí, tornou-se um dos principais
coordenadores da campanha. Logo após a eleição de Bolsonaro, Bebianno
deixou a presidência do PSL e, em 12 de novembro, foi indicado ao
primeiro escalão do futuro governo.
7
Escola Sem Partido
Símbolo da Operação Lava Jato e futuro ministro da Justiça,
o ex-juiz Sérgio Moro minimizou a importância do projeto Escola Sem
Partido para o governo que integrará a partir de janeiro. Na entrevista coletiva
após a confirmação da sua indicação, no começo de novembro, ele disse
que não havia “proposta concreta sobre este tema” por parte da
administração Bolsonaro. A fala ignora que pilares do Escola Sem Partido constam na plataforma de governo apresentada pelo hoje presidente eleito nas eleições, como o ensino “sem doutrinação e sexualização precoce”.
8
Médicos cubanos
O futuro ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM),
também disseminou informações falsas a respeito do programa Mais
Médicos, que será tutelado por ele a partir de 1º de janeiro. Segundo o
ortopedista e deputado federal publicou em sua biografia oficial,
o governo federal “tratou esses trabalhadores [médicos cubanos], não
como trabalhadores individuais, mas como trabalhadores de um país como
uma commodity, atingindo os trabalhadores, retendo seus salários,
retendo seus documentos, proibindo seu deslocamento livre no território
brasileiro”.
Mas não é verdade que o governo brasileiro fazia a retenção de salários dos médicos cubanos. Como Aos Fatos já explicou em uma checagem anterior,
graças a um acordo com a Opas (Organização Panamericana de Saúde), o
Brasil pagava o salário dos profissionais é destinado à organização, que
dividia o valor para o médico e para o governo de Cuba, que ficava com a
maior parte.
Também não foram identificadas informações que atestem o
fato de o governo reter os documentos dos médicos cubanos e a suposta
proibição de deslocamento pelo território brasileiro.
9
Aliança do PT com o PCC
O futuro ministro da Educação, Ricardo Veléz Rodriguez, também cercou-se polêmicas em 2014 ao dizer, em seu perfil no Facebook, que o PT estaria ligado aos “criminosos da facção mais perigosa que opera no Brasil, com táticas de guerrilha urbana, o PCC”.
O suposto vínculo entre o partido e a facção vem de 2006,
quando o então secretário de Segurança Pública de São Paulo, Saulo de
Castro Abreu Filho, disse que haviam inquéritos que apontavam uma “correlação”
entre os dois. Segundo uma ligação interceptada de criminosos do PCC, a
facção criminosa combinou ataques contra políticos, menos os do PT, o
que poderia indicar alguma ligação.
Logo após, o presidente do PFL da época, Jorge Bornhausen, e o então candidato José Serra (PSDB) acusaram o PT de envolvimento com a facção. Foi aberto um inquérito
para apurar a ligação entre os dois. Aos Fatos não encontrou nenhuma
atualização sobre o caso. Portanto, além de não haver provas que atestem
o vínculo, o caso também se referia apenas ao Estado de São Paulo.
Houve ainda o caso do deputado estadual Luiz Moura (PT-SP), que teria participado de uma reunião na qual estariam presentes integrantes do PCC, segundo a polícia. A suspeita fez com que ele fosse expulso do partido. Mais uma vez, o caso não angariou provas que pudessem atestar ligações diretas e formais entre o PT e o PCC.
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Maconha reduz Q.I de jovens
Futuro ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra (MDB), que também é médico, publicou no Twitter em agosto deste ano que “maconha reduz o QI” ao compartilhar uma reportagem do G1 sobre uma tese da UFMG de que usuários de maconha tinham mais dificuldade para passar nas matérias da faculdade.
Porém, a reportagem não traz qualquer afirmação parecida:
houve comparação de rendimento escolar entre usuário e não-usuários
(apenas 50,7% dos estudantes que fumam maconha passaram direto em todas
as disciplinas, enquanto entre os não usuários a proporção foi de 66,1%,
por exemplo), mas sem definição de causalidade.
Por mais que existam estudos
que sugerem que o consumo de maconha por adolescentes podem diminuir
sua capacidade mental, há outros que mostram o contrário: em 2016, um artigo
da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos estudou a
influência da erva em gêmeos e constatou que foram encontradas “poucas
evidências para sugerir que o uso de maconha adolescente tem um efeito
direto sobre o declínio intelectual”.
Esta será a segunda vez do médico Osmar Terra
no comando de uma pasta ministerial. O emedebista foi ministro do
Desenvolvimento Social no governo de Michel Temer (MDB). Em sua carreira
política ele também foi prefeito de Santa Rosa (RS), secretário de
Saúde do Rio Grande do Sul e é deputado desde 2001.
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Rombo da Previdência
O futuro ministro da Casa Civil e atual ministro
extraordinário de Transição, Onyx Lorenzoni (DEM), foi um crítico
contumaz da Reforma da Previdência enviada ao Congresso pelo presidente
Michel Temer (MDB) em dezembro de 2016. Para barrar o projeto, ele
lançou mão, inclusive, de informações incorretas.
Durante audiência da comissão especial que analisava o projeto, em abril de 2017,
Lorenzoni afirmou que o problema principal do Regime Geral de
Previdência Social é a unificação da previdência rural, "que, na
verdade, é assistência e, por isso, deficitária" com a urbana, que
seria, de acordo com Lorenzoni, superavitária.
Porém, em 2016,
a previdência urbana teve déficit de R$ 46,3 bilhões e a rural, R$
103,4 bilhões, em valores nominais, de acordo com o Ministério da
Fazenda. Esse era o dado mais recente disponível na época da fala do
hoje ministro.
12
A cruzada contra o globalismo
Ernesto Araújo, futuro ministro das Relações Exteriores,
também é conhecido por ter opiniões controversas, muitas das quais não
podem ser comprovadas factualmente. Em seu blog pessoal, por exemplo,
ele cita a existência de uma política globalista:
“Globalismo é a globalização econômica que passou a ser pilotada pelo
marxismo cultural. Essencialmente é um sistema anti-humano e
anti-cristão”.
Posição que também é adotada pelo presidente americano,
Donald Trump, a teoria propaga que ONU, União Europeia, China e ONGs
financiadas por bilionários como George Soros comandariam um plano para
dominação global e substitução das culturas tradicionais por uma moral secular, cosmopolita e esquerdista.
De acordo com o professor de Relações Internacionais da
FAAP e da PUC-SP, David Magalhães, a tese, originalmente defendida no
Brasil por Olavo de Carvalho em seu texto “Do Marxismo Cultural”,
publicado no jornal O Globo em 2002, foi concebida pelo escritor
Willian S. Lind. Segundo ele, o movimento revolucionário comunista
preconizava introduzir seus ideais em todas as instituições que
influenciavam a cultura, como igrejas, universidades, escolas e
imprensa.
Ainda segundo essa teoria, os marxistas teriam conseguido
ocupar todos os “meios de pensamento” dos EUA, das universidades aos
estúdios de Hollywood. Segundo Olavo de Carvalho: “seus dogmas macabros,
vindos sem o rótulo de ‘marxismo’, são imbecilmente aceitos como
valores culturais supra-ideológicos pelas classes empresariais e
eclesiásticas, cuja destruição é o seu único e incontornável objetivo.
Dificilmente se encontrará hoje um romance, um filme, uma peça de
teatro, um livro didático onde as crenças do marxismo cultural” não
apareçam.
Ernesto Araújo
atualmente é diplomata há 29 anos e diretor do Departamento dos Estados
Unidos, Canadá e Assuntos Internacionais do Itamaraty. Junto com
Ricardo Veléz, é o segundo ministro indicado pelo filósofo Olavo de
Carvalho.
13
Os reclusos da Esplanada
O levantamento realizado por Aos Fatos nos
perfis de redes sociais, blogs, artigos, reportagens e entrevistas
concedidas pelos futuros ministros de Bolsonaro esbarrou na falta de
informações públicas e verificáveis de outros membros da futura
Esplanada dos Ministérios. É o caso de Roberto Campos Neto (Banco
Central), André Luiz de Almeida Mendonça (AGU), General Carlos Alberto
dos Santos Cruz (Secretaria de Governo), Tarcísio Gomes de Freitas
(Ministério da Infraestrutura), Gustavo Henrique Canuto (Desenvolvimento
Regional), General Fernando Azevedo e Silva (Ministério da Defesa),
Wagner Rosário (Controladoria Geral da União), General Augusto Heleno
(Gabinete de Segurança Institucional), Paulo Guedes (Ministério da
Economia) e Bento Costa Lima Leite (Ministério de Minas e Energia).
Outro lado. Aos Fatos
entrou em contato com os dez ministros que tiveram declarações
analisadas nesta reportagem, mas não obteve respostas até a publicação
desta reportagem.
Fonte: https://aosfatos.org/noticias/kit-satanico-nazismo-de-esquerda-globalismo-investigamos-o-que-ja-disseram-ministros-de-bolsonaro/
Imagem: Não consegui identificar a fonte da imagem.
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