terça-feira, 10 de agosto de 2010
Orquestra pela conciliação no Oriente Médio faz turnê na América Latina
A West Eastern Divan Orchestra é composta por músicos com diferentes culturas do Oriente Médio, propagando através de seu trabalho paz e tolerância. A ideia é fazer música de qualidade, não só levar mensagem política.
Quatro jovens ensaiam um quarteto de cordas de Beethoven no centro cultural da estação Rolandseck, nas proximidades de Bonn, sob apreciação de um professor rigoroso e incorruptível. Chaim Taub – durante décadas o primeiro violino da Orquestra Filarmônica de Israel – retorna todo ano a essa localidade para dirigir um workshop.
Taub tem 85 anos, seus alunos entre 20 e 25. Ele não deixa passar nada, sempre muito atento aos detalhes, insistindo na repetição de compassos e frases. Às vezes ele canta junto, batuca o ritmo na mesa e ocasionalmente faz um elogio à sua maneira: "Vocês estão quase lá".
Estabelecer uma marca
Enquanto isso, num outro espaço, ouvem-se sons de oboé, clarinete e fagote. Lá também um programa de música de câmara está sendo trabalhado meticulosamente. Na idílica Rolandseck, o público alemão pode acompanhar os ensaios. Em poucos dias, contudo, os músicos já estarão em Sevilha, onde sua orquestra – a West Eastern Divan Orchestra – se encontra tradicionalmente no verão, antes de sair em turnê. Na primeira semana de agosto, eles partem para uma série de concertos na América Latina, sem passar pelo Brasil.
Os integrantes da Divan, provindos de diversos países do Oriente Médio, da Alemanha e da Turquia, são como embaixadores musicais pelo diálogo e pelo entendimento. A orquestra foi fundada em 1999 por duas personalidades motivadas a propagar a tolerância por meio da música.
Daniel Barenboim, pianista e regente mundialmente conhecido, e Edward Said, pensador de origem palestina e especialista em estudos literários, abriram a jovens músicos israelenses, palestinos e de países árabes possibilidades que eles nunca tinham tido.
Com muitos concertos e turnês por todo o mundo, a orquestra mostra desde então o potencial musical existente numa região que normalmente só produz manchetes negativas. Tocar juntos, estabelecer o diálogo, ouvir uns ao outros – isso é claramente mais que um desafio musical.
Em alto nível
Michael Barenboim – filho do fundador da orquestra – tem 24 anos e é primeiro violino. Ele está quase terminando o curso de música em Rostock, prestes a começar sua carreira de violinista. Para ele, a qualidade musical vem em primeiro plano. "Não temos uma missão política, mas uma ideia. Ouvimos com atenção a história dos outros. É melhor que tanques e foguetes", descreve ele a missão da orquestra.
Os músicos do projeto não querem se saturar com muitas discussões e pretensões políticas. A música é o principal, diz Guy Braunstein, que é também spalla da Filarmônica de Berlim. "Quanto ao nível, não há meio-termo. Não somos uma orquestra semiprofissional que arranha qualquer coisa para se sair bem na televisão por causa da política. Não, o mais importante é a maior qualidade possível".
Música e política
Os problemas do Oriente Médio continuam a se fazer sentir. E a música também não se realiza em um espaço hermético e impermeável. "Não estamos fora da realidade", diz Michael Barenboim.
E Guy Braunstein admite que há situações complicadas de vez em quando. Fizemos uma viagem no fim de 2008, começo de 2009, justamente na época de uma operação militar israelense na Faixa de Gaza. Alguns membros da orquestra têm família e amigos lá. E tiveram que tocar a 2 mil quilômetros. É difícil, muito difícil".
Projeto empolgante
Quem quiser participar da West Eastern Divan Orchestra não só precisa ser muito bom, mas também precisa se dar bem nas audições. Assim como a fagotista turca Zeynep Koyluoglu, de 24 anos. Ela está para concluir seus estudos na Escola Superior de Música de Hannover e ingressou na orquestra há pouco tempo. "As pessoas daqui me interessaram, com suas diversas religiões e culturas. Em termos geográficos, somos bastante próximos, na verdade", comenta Zeynep.
Para ela, a Divan é um projeto empolgante e um enriquecimento musical para seus integrantes. Zeynep continua desenvolvendo sua técnica com o fagote, instrumento que chegou a ela por acaso e cujo timbre grave a encanta.
A jovem música diz estar aprendendo muito com Daniel Barenboim. "Ele tem uma energia incrível, nunca se cansa, pode fazer um recital de Chopin num dia e reger uma ópera no dia seguinte, e depois uma sinfonia de Bruckner, além dos ensaios e concertos diários. Ele é incrível!", descreve ela.
Autora: Cornelia Rabitz (tm)
Revisão: Simone Lopes
DEUTSCHE WELLE
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