domingo, 22 de agosto de 2010

Fim para a guerra da mentira


Jurandir Soares, no Blog Relações Internacionais.

(Artigo publicado na edição de domingo, 22/08/10, do Correio do Povo)

Os EUA estão anunciando que a guerra no Iraque acaba oficialmente a 31 de agosto. Guerra esta iniciada em março de 2003 em nome de uma mentira, as tais armas de destruição em massa de Saddam Hussein, alegadas pelo presidente George Bush, que não existiram. Aliás, Bush é alguém que deveria ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional de Haia, porque, em nome dessa mentira, morreram 97 mil cidadãos iraquianos e 8.347 soldados da força de coalizão liderada pelos EUA. Estes números foram oferecidos nesta sexta-feira pelo jornal francês Liberatión, embora para a ONU o número de iraquianos mortos seja muito maior. Mas, além das mortes, tem-se um país destruído, onde a infra-estrutura de água, luz e saneamento funciona precariamente, quando funciona. A maior parte da população perdeu os seus negócios ou os seus empregos. Entre os últimos incluem-se os militares, tendo em vista que o exército iraquiano foi dizimado por ocasião do ataque americano.

Hoje os EUA tentam montar um novo exército para o país, para que se encarregue da segurança. Segurança esta que precisa ser dada às empresas americanas que operam no país: as petrolíferas e as da construção. As duas que, juntamente com a das armas, deram sustentação à guerra de Bush. Era preciso destruir o país para dar negócios às empresas da construção. E era preciso ocupar o país para assegurar o controle do petróleo para empresas com a Halliburton do vice-presidente de Bush, Dick Chiney. Não se pode esquecer que apenas um ano após o início da invasão as petrolíferas já alcançavam quase 100% da meta estabelecida, auferindo 1,5 bilhão de dólares ao mês com o petróleo. E dizer que tudo isto foi feito em nome da “Operação Liberdade Iraquiana”, que segundo o presidente Bush visava levar a democracia para o povo iraquiano. Ou seja, muito cinismo.Teria ele consultado o povo iraquiano para saber se esta era a sua vontade?

O grande fator a fazer com que alguns menos avisados acreditassem nas intenções de Bush era a figura de Saddam Hussein. Por se tratar de um ditador sanguinário, que não hesitava em mandar matar até um genro, se este estivesse lhe atrapalhando, vendeu-se a imagem de que se iria tirar um déspota do poder, que estava ameaçando a humanidade. E muita gente boa acreditou nisto. Hoje, Obama tenta diminuir a sangria que a guerra representa para os cofres do governo americano. Vai ter que arcar ainda com um contingente de 50 mil soldados no país. Mas é o cumprimento da promessa feita ainda durante a campanha eleitoral. Obama assegurou que no dia 1º de janeiro de 2012 não haverá mais nenhum soldado americano no Iraque.

Sabe-se que a retirada americana estabelece um vácuo no sistema de segurança iraquiano. Especialmente porque o Iraque não conseguiu ainda reestruturar o seu exército. E justamente um dos setores mais visados pelos terroristas em seus atentados é o militar. Como, aliás, aconteceu esta semana, em atentado que deixou mais de 60 mortos e mais de 100 feridos. Desta forma, a reestruturação do exército iraquiano para ficar a ponto de assumir a segurança do país vai levar muito tempo ainda. E o presidente Obama quer deixar totalmente o país até o final do próximo ano. Diante disto, a solução encontrada foi a contratação de funcionários terceirizados para atuar na segurança. Num primeiro momento serão contratados 7 mil. Todos, evidentemente, de empresas americanas. Com o que, diminuem as tropas, pagas pelo governo americano, e aumenta o contingente de americanos prestadores de serviço, pagos pelo governo do Iraque. Ou seja, os americanos seguem ganhando no Iraque e sem que ninguém seja responsabilizado pela agressão ao país.

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