domingo, 21 de abril de 2013

A CTNBio é uma comissão TÉCNICA?

Na reunião realizada ontem (18 abril de 2013) em Brasília, a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) votou três itens de pauta motivados pela repercussão causada pelo primeiro estudo científico que avaliou no longo prazo o efeito de um milho transgênico sobre a saúde.

No primeiro se submeteu à plenária documento encomendado pelo presidente da CTNBio que refuta os resultados e conclusões a que chegou a equipe liderada pelo francês Gilles-Eric Séralini, da Universidade de Caen, na França. O documento é assinado por dois membros da comissão e dois pareceristas ad hoc e está disponível na internet em português e inglês. Mesmo com o argumento de que ciência não se faz pelo voto, o resultado foi assim obtido e o parecer, que antes era da presidência, passou a ser a posição da Comissão sobre o estudo. Quatro de seus integrantes votaram contra, registrando que, desde a escolha dos relatores, o documento deixou de contemplar as visões contraditórias existentes no órgão.

Na segunda discussão foi julgado requerimento apresentado pelo Fórum Nacional de Entidades Civis de Defesa do Consumidor, que, baseado nesse estudo que demonstrou forte incidência de tumores causados pelo consumo do milho NK 603, demandou da comissão a reavaliação da decisão que liberou o cultivo comercial dessa variedade no país e também a suspensão do plantio de todas as sementes contendo esse evento de modificação genética.

Também pelos votos de 14 contra 4 a Comissão rejeitou tanto a reavaliação, quanto a suspensão do cultivo comercial dessa variedade. Durante o debate, o presidente do CNPq, que ali representa o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, anunciou que está sendo preparado um edital para financiamento de pesquisas em biossegurança, destacando a importância de se realizar tais estudos, mas ele próprio votou contra o pedido do Fórum que pedia a revisão dos estudos que embasaram a liberação.

O terceiro debate sobre o tema tratou de documento apresentado por 14 integrantes e ex-integrantes da comissão compilando estudos em apoio aos dados dos franceses e contestando as críticas a ele apresentadas. Ali estão também pontuados níveis distintos de exigência que poderiam ser entendidos como um duplo padrão, já que boa parte das críticas apresentadas à pesquisa seriam cabíveis também aos dados apresentados à CTNBio pela Monsanto, empresa que desenvolveu o NK 603. Os pesquisadores que assinam o texto apontam que seria salutar se, aos processos que ali tramitam, fosse aplicado o mesmo rigor que mereceu o estudo que mostrou efeitos negativos de um transgênico à saúde. Também por 14 a 4 esse parecer foi negado.

O argumento da existência de um “histórico de uso seguro”, como sempre, foi evocado no debate como forma de demonstrar a segurança dos transgênicos que há mais de uma década estão no mercado. Mas como bem lembrou um dos integrantes da Comissão, se esse é um experimento, feito no mundo real e tendo a humanidade como cobaia, ele é um experimento sem hipótese, sem teste e sem controle.

A recusa a se repetir um estudo corrigindo suas falhas metodológicas indica a prevalência de um sentimento de crença que suplanta o próprio método científico, bem como um desejo de apoio à tecnologia que acaba por dispensar a oportunidade trazida pelos novos dados para se entender melhor o assunto. Ou, em outras palavras, diante da ignorância que ainda cerca a questão, prevaleceu a certeza.

Fonte da Matéria AQUI.
Fonte da imagem AQUI.

2 comentários:

  1. Omar, gostaria de comentar este post, que veio, como você indica, da ASPTA.
    Primeiro, você se questiona se a CTNBio é uma comissão técnica. É. Mais não é uma academia de ciências, sua função não é fazer ciência, mas apenas avaliar riscos. Assim, não cabe à CTNBio conduzir experimentos. O máximo que ela pode fazer é pedir que algum proponente de uma liberação planejada no ambiente ou de uma liberação comercial faça algum experimento que contribua com a avaliação de risco e que faltava no dossiê.
    Assim, a CTNBio não vai repetir experimentos de ninguém. Quem poderia repetir os experimentos do Séralini, que são estes que a ASPTA menciona como importantíssimos? Qualquer laboratório de pesquisa no mundo que se interesse por isso. O problema é que experimentos são conduzidos de acordo com um plano metodológico e a imensa maioria dos cientistas não concorda com o desenho metodológico do artigo do Séralini Assim como eles não concordam, as agências que pagam os estudos, também não. Então, afinal, quem pode repetir experimentos que usam uma linhagem de ratos que espontaneamente desenvolve câncer, que deixam os animais desenvolverem tumores monstruosos, contra todo o bom senso e a ética de experimentação com animais (exceto, talvez,na França), que usa uma estatística vacilante e que não vai conseguir apoio financeiro oficial?
    A resposta é simples: um simpatizante da causa anti-OGM do Séralini, que obtenha financiamento parecido com o que o instituto que o apoia te, isto é, da indústria e dos atacadistas de produtos não-GM (orgânicos e convencionais). Estes cientistas são independentes: não têm ligação alguma com a Monsanto e suas congêneres, não precisam provar ao financiador que sua metodologia é boa e podem fazer tudo como o Séralini fez, sem divulgação aos pares, matando ratos com tumores espetaculares. Se usarem a mesma estatística é impossível saber oque vão obter, porque os resultados do Séralini são a flutuação estatística, ou seja, são devidos ao acaso.
    A ciência não é construída com a repetição de experimentos mal delineados, mas com a adição de novas evidências, desenhadas dentro do estrito método científico. Sugiro a leitura de http://genpeace.blogspot.com.br/2013/04/ciencia-independencia-e-voto-se-o-caso.html

    Atenciosamente,
    Paulo Andrade
    andrade@ufpe.br

    ResponderExcluir
  2. Sobre este tema sugiro a leitura de http://genpeace.blogspot.com.br/2013/04/repeating-seralinis-experiment.html

    ResponderExcluir