sábado, 9 de abril de 2011

ONDE ESTÁ A EXTREMA DIREITA NO BRASIL (ALGUMAS PISTAS)

A persistência do ódio 

 

Está tudo esclarecido: vivemos na confusão. Queremos serviços perfeitos do Estado, de preferência, sem pagar impostos. Defendemos um trânsito organizado, desde que possamos cometer nossas infrações sem que venham nos multar por pouca coisa. Lutamos pelo respeito ao que há de mais sagrado, a infância, mas colocamos sutiãs em meninas de 6 anos de idade. Exigimos tolerância. Mas expelimos ódio. Continuo recebendo, todos os dias, e-mails contra o ex-presidente Lula. As acusações contra ele são três: analfabeto, populista e chefe de um governo que acobertou a corrupção. Nos e-mails em que Lula é chamado de analfabeto há, quase sempre, erros de português em profusão. Essas mensagens parecem revelar mais o ressentimento indestrutível de quem as escreveu.

Será que alguém acredita mesmo que os oito anos de Lula foram os mais corruptos da história do Brasil? Eu acredito na existência do mensalão. Acredito na existência de todos os mensalões. Quando era governador da Guanabara, Carlos Lacerda pensava em renunciar por se considerar cansado do sistema de compra de deputados. Acredito em todos os mensalões recentes, o do PSDB de Minas Gerais, o de FHC para aprovar a emenda que lhe garantiu mais quatro anos de mandato, o do PT e o do Dem de Brasília. Eu acho que Lula erra ao menosprezar o que aconteceu. Na ponta do lápis, porém, o saldo do governo Lula foi positivo. A turma do ódio vive de semear perigos que não se confirmam. O radicalismo de Dilma foi brandido durante a campanha eleitoral como uma certeza de tempestade administrativa. A presidente tem mostrado mais comedimento que o seu antecessor e padrinho notório.

O sucesso de Lula fortalece o ressentimento dos seus opositores. O mundo o admira. Universidades prestigiosas atribuem-lhe títulos de doutor honoris causa. O Bolsa-Família e o ProUni, concebido pelo então ministro da Educação Tarso Genro, estão mudando a cara do Brasil. Dilma, que Lula escolheu contra a opinião de todos, especialmente dos marqueteiros e dos homens "sensatos e prudentes", toca o barco com personalidade e competência. Sempre que a esquerda chega ao poder - não foram muitas vezes no Brasil -, a direita fica mais honesta que de costume e só fala em corrupção e em moralidade. É o que resta. Dados recentes mostram que o Brasil ainda precisa evoluir muito para diminuir a desigualdade social, esse "clichê" que horroriza muitos conservadores, e carimbar seu passaporte para o desenvolvimento sem exclusão.

O que chama a atenção é a violência dos críticos. Por que tanto ódio? Por que um ódio tão persistente? Alguns dos agressores, por coincidência, são os mesmos que tentam justificar o golpe militar de 1964 com ladainhas que o exame atento da história do período não respalda, salvo como mitologia ou manipulação. São também os mesmos que recusam qualquer investigação sobre a tortura no regime militar. São também, algumas vezes, outra coincidência, os que aplaudem os disparates do deputado racista e homofóbico Jair Bolsonaro, cujo direito de vomitar bobagens deve ser assegurado para que o Brasil possa saber com que triste figura está lidando. O preconceito tem a coerência do simplismo. É hermético.

Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br

Correio do Povo

Um comentário:

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