sexta-feira, 18 de abril de 2008

O novo Brasil vai obrigar a revermos nossos conceitos

Blue Bus:

Passar quase 2 horas escutando o antropólogo Roberto DaMatta analisar a sociedade brasileira, como diz aquela propaganda de cartao de crédito, nao tem preço. Isso aconteceu comigo na 4a feira, quando aceitei o convite da MPM para participar da abertura do seu ciclo de palestras. Novo mesmo para mim foi ver o professor ao vivo. As idéias que ele foi apresentando naturalmente, como se estivesse numa sala de aula, sao conhecidas de quem acompanha seu trabalho. No auditório da agência, DaMatta propôs mais uma comparaçao entre o Brasil e os EUA, desta vez usando músicas - ele contrapôs a versao de 'Aquarela do Brasil', gravada por Sílvio Caldas em 1942 com 'The house I live In', que Sinatra gravou em 1945, para mostrar que os americanos definem seu país como a casa onde eles moram, enquanto nós exaltamos o Brasil como um paraíso criado por Deus, caracterizado por uma natureza perfeita habitada por uma sociedade imperfeita. 18/04 Luiz Alberto Marinho

Essa sociedade imperfeita e hierarquizada, segundo DaMatta, é fruto da trajetória do país, colonizado pela realeza e marcado historicamente pela relaçao de poder entre a elite e a patuléia. Porém, nao nos damos conta dos absurdos que cometemos cotidianamente por conta dessa herança cultural, tais como nos comportarmos em grupo no restaurante como se estivéssemos na nossa casa ou bloquearmos com nossos carrinhos de bagagem a porta do desembarque do aeroporto, obrigando os outros a esperar enquanto abraçamos nossos saudosos amigos e parentes. "Os incomodados que se mudem", pensamos nós. Também faz parte da nossa natureza acreditar que é o Governo que deve mudar a sociedade e nao o contrário. Por isso, esperamos que o poder público resolva todos os nossos problemas ao mesmo tempo em que imputamos a culpa pela epidemia de dengue ao mosquito, o que implicitamente significa isentar o Estado ineficiente. 18/04 Luiz Alberto Marinho

Para nao dizer que nao falou de propaganda, DaMatta mencionou um comercial estrangeiro de automóvel, onde um carro equipado com detector de obstáculos ultrapassa outro na estrada, para explicar a relaçao que existe hoje entre velocidade e superioridade - para nós, ultrapassar os outros, furar uma fila ou fazer alguém esperar é exercer o poder. Por este raciocínio, consideramos normal aguardar horas por uma pessoa mais importante, mas nao estamos dispostos a perder 1 minuto sequer para encontrar um subalterno. 18/04 Luiz Alberto Marinho

DaMatta encerrou dizendo que a medida que as desigualdades vao se reduzindo, como de fato acontece hoje no Brasil, nossa sociedade se defrontará com o desafio de rever seus conceitos, aceitar a diversidade e combater a noçao de hierarquia que orienta a relaçao entre as pessoas. O mesmo se aplica a publicidade, que é espelho dessa sociedade. Todas do Marinho no Blue Bus, escolha uma aqui. 18/04 Luiz Alberto Marinho

O Marinho escreve no Blue Bus as 2as, 4as e 6as.

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