terça-feira, 17 de maio de 2016

AS ESPADAS DA BRIGADA




GAÚCHO

Riscando os cavalos!
Tinindo as esporas!
Través das coxilhas!
Saí de meus pagos em louca arrancada!
— Para que?
— Para nada!

Ascenso Ferreira


Se alguém não sabe, sabre é uma das três armas usadas na esgrima, juntamente com o florete e a espada. O sabre é a mais leve das armas da esgrima, com aproximadamente 500g de peso, o mesmo que um florete. É a arma mais curta das três disponíveis, tendo no máximo 88 cm de comprimento de lâmina e 105 cm de comprimento total.

Há uma certa dúvida a respeito de qual arma a Brigada Militar fez uso na carga de cavalaria realizada na sexta-feira, 13 de maio de 2016, em Porto Alegre.

Alguns órgãos da mídia declararam que os policiais utilizaram espadas. Outros viram perfeitamente que se tratava de sabres.

Possivelmente muitos dos membros da Brigada Militar que participaram da carga de cavalaria gostariam de ficar conhecidos como portadores de espadas. Afinal a espada é mais comprida que o sabre e é dura (os sabres são bastante flexíveis). Por outro lado, presume-se que não gostariam de ser conhecidos como portadores de floretes.

Porém, alguns dias após o ocorrido, há um certo consenso de que a arma utilizada foi o que costumam chamar de sabre.

Os sabres têm diversas utilidades. Além de serem armas de esgrima, podem ser usados para abrir espumantes, por exemplo.

Chamam a isso sabragem ou sabrage.

(O processo da sabragem funciona assim: primeiro é necessário que o espumante esteja bem gelado, depois é importante remover toda a cápsula (objeto de plástico, ligas metálicas ou estanho que cobre o gargalo) e a gaiola (arame) do produto. Em seguida, é necessário encontrar a emenda de vidro das duas metades que formam a garrafa, o que pode ser feito com tato ou a olho nu. O sabre deve acompanhar a emenda e percorrer o pescoço da garrafa para se chocar de forma brusca contra a base do gargalo e a pressão interna, de seis atmosferas, vai se encarregar de expelir a parte superior do líquido para longe. Se bem executado o processo, não há risco ao beber o conteúdo da garrafa, pois não ficam sobrando caquinhos de vidro.)

Segundo alguns, o sabre também é muito útil para coçar partes do corpo não alcançadas pelas mãos, porém quanto a isso não tenho certeza se funciona a contento.

A dúvida que ficou em relação à carga de cavalaria acima referida é a seguinte: para que diabos estavam sendo utilizados os sabres naquela sexta-feira?

Aparentemente o problema é que algumas pessoas, jovens na maioria, estavam extravasando seu descontentamento com o governo e, devido ao calor do momento, talvez estivessem mais entusiasmadas do que costumam ser usualmente.

A Brigada Militar examinou a situação e por algum motivo decidiu que as pessoas estavam passando de um ponto considerado como tolerável.

Decidiu, então, dispersá-las.

Para isso utilizou várias formas, uma das quais foi a famosa carga da cavalaria, com os nossos amigos sabres em posição de ataque.

Realmente não se conseguiu chegar a uma conclusão lógica em relação a como seriam utilizados os sabres na prática.

Provavelmente os valorosos membros da Brigada não estavam pensando em furar o corpo de ninguém com eles. Ou estavam?

Será que gostariam de bater nas pessoas, a la Rodrigo Cambará* (com os pequenos, de prancha)? De prancha: bater de lado, sem cortar, só para afugentar.

De qualquer forma esse mistério permanecerá, pois quando chegaram ao final da fatídica carga aparentemente não encontraram ninguém pela frente.

Ainda bem.





* "Buenas e me espalho, nos pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho!"
Passagem do livro Um certo Capitão Rodrigo - Érico Veríssimo.

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