terça-feira, 3 de maio de 2011

"O assassinato de Bin Laden representa o fracasso da estratégia dos EUA e dos seus aliados"


"A vida do Bin Laden já era irrelevante quando falámos este Verão. Os EUA deveriam ter optado pela captura", disparou Robert Fisk, em entrevista telefónica, na manhã em que o mundo acordou com a notícia do seu assassinato. Quando em Julho do ano passado o entrevistei para o i, o histórico correspondente do "Independent" já vaticinava a morte do projecto político da Al-Qaeda e dizia que, independentemente do que viesse a acontecer a Bin Laden, ele já tinha conseguido os seus objectivos: "Ele é um líder simbólico da Al-Qaeda, não cumpre qualquer papel na organização."

Para Robert Fisk o que se está a passar no Afeganistão é um levantamento popular contra as tropas da coligação internacional liderada pelos EUA sem qualquer relação com o saudita. Fisk, o último ocidental a entrevistar aquele que foi o principal inimigo dos EUA na última década, não tem dúvidas de que o assassinato de Ossama Bin Laden "é um enorme fracasso da autoproclamada guerra contra o terrorismo" e que "os EUA deveriam ter optado pela captura".

Como reagiu ao assassinato de Bin Laden?
Com indiferença. O seu significado político já era praticamente nulo e a sua ligação aos grupos que se reivindicam da Al-Qaeda é nulo. Não mantinha qualquer relação com o Magrebe, o Norte de África ou mesmo o Médio Oriente.

O que lhe parece que o assassinato do Bin Laden pode representar dez anos depois do início de uma guerra que foi justificada com a sua captura?
Em primeiro lugar importa lembrar que o objectivo dos EUA sempre foi a sua captura, a única maneira de garantir que seria julgado em território americano. Ao optarem pelo assassinato, os EUA repetem o desfecho da sua intervenção no Iraque, países cuja realidade são a resposta mais cabal à sua pergunta.

Como assim?
O que se está a passar em qualquer destes países, em especial no Afeganistão, não tem nada a ver com o Bin Laden ou com a Al-Qaeda. Trata-se de um levantamento popular contra as tropas ocidentais no território, resultado directo do fracasso da estratégia para todo o Médio Oriente. O acordar do Médio Oriente para a democracia secular derrota simultaneamente o projecto do Ocidente e dos defensores dos califados islâmicos. Foi isso que matou o Bin Laden, a Al-Qaeda, mas também a política do Bush e do Obama para o Afeganistão. A guerra que os EUA e os seus aliados enfrentam é insurreccional e nada tem a ver com a auto-proclamada guerra contra o terrorismo.

Mas ouvindo as declarações de Bush e de Obama, tal como a generalidade dos líderes mundiais, este assassinato é entendido como o coroar da estratégia que considera ter fracassado.
Naturalmente, eles continuam a não querer admitir. Acabei de ouvir agora o Benjamin Netanyahu afirmar que esta operação "é uma vitória retumbante da justiça" e eu gostaria de lhe perguntar o que seria um fracasso. Já deveriam ter aprendido com o passado e abandonado o triunfalismo. A propaganda de Obama vai fazer deste fracasso uma vitória, como fez com os levantamentos em curso em vários países do Médio Oriente, mas isso não muda a realidade. Os serviços secretos norte-americanos não foram capazes de prevenir os acontecimentos do 11 de Setembro e agora não foram capazes de capturar e julgar aquele que foi o seu responsável. Só seria um sucesso se fossem capazes de o levar à justiça.

O seu assassinato terá efeitos no aumento ou na diminuição do dito terrorismo islâmico?
Acho que nas próximas semanas até pode vir a aumentar, especialmente com bombistas suicidas no Afeganistão e no Paquistão, onde a situação é mais complicada para as tropas ocidentais. Acredito que acções como a que aconteceu esta semana em Marraquexe podem repetir-se, e que até haja quem as venha reivindicar em nome da Al-Qaeda. Agora o sucesso da luta pela democracia secular iniciado pela população da Tunísia e do Egipto é a chave para que essa via venha a perder terreno e base de apoio que a alimente.

Qual a memória que guarda das horas que passou a entrevistá-lo?
Várias, claro. Foram entrevistas importantes e vividas com grande intensidade. Por agora recordo as últimas palavras que ele me dirigiu: "Rezo a Deus para um dia vencer os EUA" e a forma cordial como me tratou, talvez acreditando que seria capaz de me recrutar.

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2 comentários:

  1. Oi Omar. O meu novo blog Montevideo blog já foi lançado. se puder, da uma espiada. Obrigado pelo comentario

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  2. O pior é que o Obama vai usar isso aí para se releger, e ainda vai conseguir isto.

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