sexta-feira, 20 de maio de 2011

Aumenta pressão sobre Netanyahu


Wyre Davies
Da BBC News em Jerusalém

O discurso do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, no qual ele apoiou a criação de um Estado palestino baseado nas fronteiras de 1967, na quinta-feira, aumenta a pressão sobre o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, que já vinha sendo criticado pela imobilidade diante do cenário de mudanças vivido pelo Oriente Médio nos últimos meses.

Em muitos aspectos, Netanyahu deveria ser um homem feliz com o seu quinhão. Ele está em meio a uma visita de alto nível a Washington, onde será recebido por um aperto de mão firme e palavras calorosas do presidente Obama.

Em um discurso histórico para uma sessão conjunta do Congresso na próxima semana, espera-se que ele seja repetidamente aplaudido ao descrever como seu governo vem buscando a paz incansavelmente.

E na conferência anual da Aipac (organização do lobby americano pró-Israel), ele será homenageado como um herói e um símbolo de esperança numa região hostil.

Mas no front doméstico, em um Oriente Médio que vem mudando radicalmente, o líder israelense parece cada vez mais ultrapassado ​​e fora de compasso com as tentativas de outros para resolver o frustrante e duradouro impasse do conflito israelo-palestino.

Quando o secular e moderado movimento palestino Fatah, que administra a Autoridade Palestina na Cisjordânia, anunciou no mês passado um acordo com a organização islâmica Hamas para formar um governo de união nacional, Netanyahu pode ter pensado que havia recebido um presente inesperado, na véspera de uma visita a Paris e a Londres.

Como Israel poderia negociar e confiar em “terroristas” palestinos (o Hamas), que haviam prometido lutar pela destruição do Estado judeu?

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, tinha uma escolha clara entre o Hamas e a paz e fez a escolha errada, era a mensagem que vinha do governo de Netanyahu. E era essa a mensagem que ele pretendia levar ao mundo.

Isolamento

Mas Netanyahu está encontrando um mundo – ao menos aquele além do confinamento amigo da conferência da Aipac em Washington – no qual Israel está cada vez mais isolado e no qual ele é pessoalmente criticado por comentaristas israelenses como “irrelevante” e carente de ideias.

Em Londres e Paris, por exemplo, a delegação israelense se encontrou com governos europeus preparados a dar uma chance à unidade palestina.

Claro, eles dizem, que o Hamas deve renunciar à violência e não prejudicar os esforços internacionais pela paz, mas o princípio de uma posição palestina unificada parece inteiramente lógica, e até mesmo desejável, para muitos na Europa.

Netanyahu havia anteriormente apontado a desunião palestina como um sinal de fraqueza.

Se o projeto de união palestina se manter de pé – e ainda há um grande “se” nisso – Netanyahu corre o risco de enfrentar uma crise ainda maior.

Ele poderá ser deixado falando sozinho enquanto a maior parte do mundo abraça o que será apresentado como novas iniciativas pelo lado palestino.

No início desta semana, Abbas deixou claro que se as negociações de paz não forem retomadas, irá à Assembleia Geral da ONU, em setembro, para buscar o reconhecimento internacional a um Estado palestino independente.

Em seu discurso na quinta-feira, Obama advertiu a liderança palestina de que essa ação não funcionará. Ele também reconheceu que o acordo entre o Fatah e o Hamas levantou preocupações legítimas para Israel.

Mas cada vez mais os palestinos parecem ter a iniciativa. A vida parece difícil para a coalizão de direita que sustenta Netanyahu, e há uma pressão ainda maior sobre Israel em relação a temas como os assentamentos judaicos ilegais em terras palestinas ocupadas.

Primavera Árabe

Não são somente os palestinos que estão fazendo o governo Netanyahu parecer mal preparado e sem direção.

Israel há muito tempo se apresentava como a única democracia verdadeira em uma região antidemocrática, dominada por regimes corruptos ou autoritários.

O governo de Netanyahu ficou quase imobilizado diante dos dramáticos acontecimentos da Primavera Árabe.

Em vez de abraçar e apoiar abertamente os pedidos por mais democracia no Egito, na Líbia ou na Síria, Israel pareceu às vezes temeroso de mudanças – denunciando a preferência, segundo alguns críticos, por homens fortes árabes seculares sobre os nascentes reformistas pró-democracia.

Em última instância, Binyamin Netanyahu pode estar certo em estar cauteloso. Ninguém sabe se o acordo Fatah-Hamas vai se manter. Nenhuma das facções palestinas disse até agora como pretende resolver as muitas questões fundamentais e diferenças entre eles.

Nem ninguém tem nenhuma ideia se a Primavera Árabe vai trazer democracias seculares genuínas, determinadas não somente a reformar seus próprios sistemas corruptos, mas também em abraçar o Estado de Israel como um parceiro legítimo.

Israel talvez tenha lutado guerras demais com os palestinos e seus vizinhos árabes para já ir abrindo seus braços com um sorriso.

Os opositores políticos de Netanyahu e seus críticos na imprensa estão desesperados para ver algumas iniciativas políticas pensadas e factíveis – tanto em relação aos palestinos quanto em relação ao mundo árabe.

Talvez isso virá diante de audiências mais receptivas em Washington nesta semana.

Se, entretanto, seus argumentos forem velhos, batidos e não suficientemente fortes para desafiar o isolamento israelense, Netanyahu voltará dos Estados Unidos para uma atmosfera política ainda mais febril.

Fronteiras de 1967

O presidente Obama disse acreditar que um futuro Estado palestino deveria ser baseado nas fronteiras do cessar-fogo de 1967, com trocas acertadas de território que poderiam manter alguns dos maiores assentamentos sob controle israelense.

Essa proposta já foi rotundamente rejeitada por políticos de direita e líderes de assentamentos em Israel. Netanyahu disse que buscaria garantias do presidente Obama, mas ele claramente não gostou do que ouviu.

Obama, que também falará à conferência da Aipac na semana que vem, não deve colocar muito mais força na queda de braço neste momento.

Mas se ganhar um segundo mandato, muitos analistas dizem que um Obama liberado das restrições eleitorais poderia voltar ao tema da paz no Oriente Médio e apertar mais a posição sobre Israel – e sobre os palestinos – se achar que pode conseguir o que muitos outros líderes americanos antes dele tentaram e falharam.

Os líderes de Israel também têm algumas escolhas duras a fazer, porque em 10 ou 20 anos os fatos e a mentalidade na região podem estar tão arraigados e firmes que uma solução de dois Estados, um israelense e um palestino, convivendo lado a lado, poderá não ser mais factível ou realista.

Um líder que parece às vezes ter sua cabeça enterrada na areia, mostrando todos os sinais de inatividade e indecisão, enquanto outros em seu entorno tomam as iniciativas, é a última coisa de que Israel precisa agora.

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