quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Especialistas tentam explicar recentes eventos climáticos extremos

Foto de Gustavo Priebe:

A jet stream não é tão popular, mas desempenha uma função essencial no equilíbrio climático. Nesse verão, o jato de ar se comportou de maneira diferente, provocando um caos climático que cientistas tentam explicar.

As notícias relacionadas ao clima ocupam as manchetes há várias semanas: as chuvas torrenciais no Paquistão, deslizamentos na China, frio extremo no Peru, incêndios florestais na Rússia e o inverno seco no Brasil, elevando o risco de queimadas no país.

Os cientistas não são unânimes ao relacionar esses eventos com as mudanças climáticas. E os acadêmicos buscam explicações: em meados de agosto, foi apresentada uma nova teoria que estabelece uma conexão entre as baixas temperaturas e a falta de atividade do sol.

Para o físico russo Vladimir Ryabinin, da Organização Mundial de Meteorologia, os eventos extremos registrados mundialmente nas últimas semanas também não são corriqueiros: "Em Moscou, durante a onde de calor, o recorde de temperatura foi quebrado 22 vezes. No Paquistão, o volume de chuvas é anormal. Muitos serviços meteorológicos tentam descobrir o porquê disso. Sobre as causas, neste momento é possível apenas fazer especulações".

O Met Office, serviço britânico de meteorologia, acredita já saber o bastante: a circulação de ar sobre o Leste Europeu e a Ásia sofreu fortes interrupções e a chamada jet stream, corrente de ar em jato que circula em altas atitudes, ficou bloqueada por semanas. Tal corrente é conhecida na aviação: as aeronaves se aproveitam da jet stream para encurtar o tempo de viagem.

Normalmente, esse jato de ar flui de leste para oeste. Neste verão, entretanto, a jet stream esteve excepcionalmente estável e fixa, devido a uma zona de alta pressão. O que houve foi um bloqueio, como dizem os meteorologistas. O clima ficou de certa forma bloqueado e o jato de ar moveu-se para o sul. O ar frio das montanhas das zonas temperadas moveu-se sobre as monções, de ar quente e úmido, o que provocou tempestades no sul da Ásia e trouxe chuvas adicionais.

Vladimir Ryabinin vê ligações entre essas situações extremas: "As condições meteorológicas na Rússia praticamente não permitiram que o ar deixasse o local que recebeu as chuvas de monções. De um lado, há a cadeia montanhosa elevada do Himalaia. Do outro, havia essa zona de alta pressão que, segundo acho, também não conseguiu deixar o local devido ao ar quente que se encontrava sobre a península arábica. No fim, as chuvas extremas atingiram a China".

Efeito La Niña

De qualquer forma, esse é o tempo favorável para as chuvas de monções. Na zona tropical do Pacífico, é sabido que os fenômenos climáticos El Niño e La Niña se alternam. Enquanto que o El Niño aquece o oeste do Pacífico, na costa sul-americana, a parte oeste, na Ásia, fica fria. No caso do La Niña, a situação é inversa. Nesse momento, o Pacífico está sob o efeito da La Niña, e há implicações também no Oceano Índico e nas monções daquela região.

"O La Niña tende a estar ligado com uma forte precipitação sobre a Índia. Quando as temperaturas no Oceano Índico sobem, o ar soprado com os ventos de monções do mar para o continente também fica mais úmido", explica Ryabinin.

Sobre a provável relação desses fenômenos com o aquecimento global, o físico russo cita o Relatório Mundial do Clima de 2007, que afirma que os eventos climáticos extremos ficarão mais frequentes e mais fortes. "O que vemos agora corresponde com esse prognóstico. Eu acho que precisamos nos preparar para eventos regulares e muito intensos."

Eventos extremos

Em 2003, a Europa Central viveu uma intensa onda de calor. E a Rússia agora registra temperaturas recordes. Ambos os casos são considerados extremos para o clima habitual e deveriam acontecer a cada mil anos, segundo afirmam especialistas.

Heinz Wanner não se surpreende mais com esses fatos. O suíço, diretor do Centro de Pesquisa do Clima na Universidade de Berna, afirma: "É natural que aumentem as temperaturas recordes. A diferença entre as temperaturas médias mínimas e máximas ficará maior. Na Europa Central, o ano de 2003 foi um exemplo de como deverá ser o final do século".

E também a monção, que atinge fortemente o Paquistão, poderá ficar mais intensa. O físico Anders Levermann, do Instituto de Postdam de Pesquisa de Impacto Climático, na Alemanha, investiga essa área. "Com o aquecimento global, nós esperamos, primeiramente, que as monções fiquem mais fortes. Todos os modelos indicam isso. Isso traz grandes problemas, com o aumento de chuvas. E as chuvas ficarão mais extremas, causando deslizamentos de terras e coisas semelhantes."

Especialistas da área se encontrarão nas próximas semanas em Paris e nos Estados Unidos. Os pesquisadores querem entender os motivos que provocaram as situações extremas vistas neste verão do hemisfério norte além de buscar meios para prever esses fenômenos meteorológicos no futuro.

Autor: Mrasek Volker (np)
Revisão: Roselaine Wandscheer

DEUTSCHE WELLE

Nota do Blog: No Brasil ainda existem metereologistas que negam a existência de mudanças climáticas relevantes, mesma posição da indústria do petróleo norte-americana, a qual financia eventos para discutir a situação do clima global.

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