terça-feira, 7 de julho de 2009

O FBI descobriu a pólvora: Saddam afinal fazia 'bluff'


por Leonídio Paulo Ferreira, para Diário de Notícias, via Jumento

Foi com a oferta de toalhetes para bebé que George L. Piro conseguiu convencer Saddam a conversar durante o tempo em que esteve preso pelos americanos antes de ser enforcado por ordem de um tribunal iraquiano em finais de 2006. Ao longo de 20 "entrevistas formais" e cinco "informais", o agente do FBI, fluente em árabe, ouviu o ditador falar da época que antecedeu a invasão de 2003. E confessar-se "mais preocupado com o Irão descobrir as vulnerabilidades do Iraque do que com as repercussões nos Estados Unidos da sua recusa em autorizar o regresso dos inspectores da ONU". Saddam admitiu ter feito bluff, dando a entender que possuía armas biológicas e químicas, para não passar por fraco junto do inimigo da guerra dos anos 80.

Mas muito antes destas confissões do "Detido de Alto Valor Número 1", houve quem tentasse alertar os Estados Unidos para a lógica do Presidente iraquiano, um homem odiado no Médio Oriente depois de ter invadido dois vizinhos. Scott Ritter foi dessas vozes a mais insistente e no livro Guerra contra o Iraque afirmava ter a certeza da eliminação de 90 a 95% das armas de destruição maciça após a primeira intervenção americana, em 1991, para libertar o Koweit. Ritter, que foi sete anos inspector da ONU, percebeu que, mais do que desrespeitar as sanções, Saddam tentava camuflar que guerras, embargo petrolífero e destruição dos arsenais tinham deixado o país fragilizado.

Depois de décadas como dono de um país, Saddam nunca lidou bem com as condições de detenção. Obcecado com a higiene, foi fotografado a lavar a roupa e desenvolveu uma obsessão pelos toalhetes, que usava até para limpar a fruta. Um ano antes desta divulgação da transcrição dos interrogatórios, Piro surgira na CBS a explicar a sua abordagem, dizendo que usar a força contra Saddam, tipo falso afogamento da CIA, não só era contra as regras do FBI como contraproducente. Só o tempo, com "a alternância de actos de gentileza e de provocação", garantia resultados. E foi através da paciência que o agente conseguiu também que Saddam lhe dissesse que odiava Ben Laden, a quem nunca conheceu, apesar da insistência americana em ligar o Iraque ao 11 de Setembro. Uma vez mais, nada que não se soubesse. A secreta espanhola, em vésperas da cimeira das Lajes, aconselhou o primeiro-ministro José María Aznar a não apoiar a tese da aliança entre Ben Laden e Saddam, notando que o iraquiano sempre foi uma nacionalista laico, com cristãos no Governo. Ritter afirma o mesmo no livro: "Seria absurdo o Iraque apoiar a Al-Qaeda."

Ao interrogador, Saddam disse ainda que não gostava dos Bush, pai e filho. Mais uma vez nada que não se soubesse já. Mas que o líder iraquiano achava Ronald Reagan um grande homem e apreciava Bill Clinton é mais surpreendente. De qualquer forma, seis anos depois da guerra lançada por George W. Bush com base em falsas provas da CIA, pode-se dizer que se esta nunca encontrou as tais armas de destruição maciça que justificaram o ataque preventivo a Saddam, já o FBI descobriu a pólvora.

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