terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Teorias científicas vão aos tribunais


Um tribunal da Pensilvânia, nos Estados Unidos, declarou inconstitucional o ensino da teoria anti-evolucionista do 'intelligent design' ou 'desenho inteligente' em escolas americanas. Teoria tem adeptos e opositores na Alemanha.

Depois de uma ação movida por pais de alunos de uma escola da Pensilvânia, o juiz John Jones declarou inconstitucional o ensino das teorias do intelligent design em escolas norte-americanas.

Os educadores de Dover, na Pensilvânia, haviam decidido implantar o ensino do intelligent design ou "desenho inteligente" nas aulas de Biologia das escolas públicas, como alternativa à teoria evolucionista do inglês Charles Darwin (1809-1882), baseada na seleção natural e na mutação genética.

Opositores da Teoria da Evolução existem desde que ela foi introduzida no século 19. Entretanto, neste começo de século, as teorias oposicionistas ganham, além de ares científicos, um novo aliado: o próprio presidente americano George W. Bush, defensor do ensino criacionista nas escolas americanas.

O que é o intelligent design

A palavra design foi bem escolhida pelos defensores da nova teoria, pois em inglês ela também significa não só desenho, projeto, como desígnio (a exemplo da expressão God's design – desígnio de Deus).

E até mesmo uma instituição especializada em comprovar cientificamente a teoria surgiu na cidade de Seattle, nos Estados Unidos: o Discovery Institute (Instituto da Descoberta).

Os opositores das teorias de Darwin dividem-se basicamente em dois grupos: os criacionistas, que acreditam piamente nos ensinamentos da Bíblia, de que Deus criou o mundo em seis dias e no sétimo descansou.

No segundo grupo, os defensores do intelligent design não discordam da evolução das espécies, mas propagam que o começo desta evolução estaria ligado a uma idéia, ou um projeto, levando à crença de um ente maior, um criador responsável por essa idéia ou desígnio.

Segundo pesquisa do Instituto Gallup, 53% dos americanos acreditam na criação divina como descrita na Bíblia, 38% concordam com as teorias do "desenho inteligente" e somente 12% acreditam que Deus não tem nada a ver com a evolução.

Adeptos também na Alemanha

O propagador mais proeminente das teorias anti-darwinianas na Alemanha é a sociedade de estudos Wort und Wissen (Palavra e Saber), instalada na cidade de Baiersbronn, na Floresta Negra.

O seu diretor, o microbiologista Siegfried Scherer explicou à rede de televisão ZDF que "não seria totalmente impossível pensar que a humanidade teve sua origem em Adão e Eva".

Em seu livro Manual crítico da evolução (Evolution – ein kritisches Lehrbuch), ele desenvolveu a teoria de que os organismos desenvolveram-se de tipos primários criados por um ser superior.

E comparados com os norte-americanos, os alemães são menos crentes: apenas 38% discordam da teoria de evolução de Darwin, dos quais 13% acreditam nos ensinamentos bíblicos e 25% aproximam-se da doutrina do intelligent design.

Reações e exposições

Desde os anos de 1980, que a Suprema Corte americana havia decidido que o criacionismo se tratava de uma teoria religiosa, e não deveria ser levada às aulas de Ciências Naturais.

Com o intelligent design, parece que os criacionistas americanos tentam burlar esta decisão da Suprema Corte e introduzir, nos cursos de Biologia, uma religião que agora ganha ares pseudo-científicos. Entretanto, as reações nos Estados Unidos não ficam somente nos tribunais.

O Museu Americano de História Natural inaugurou a maior exposição já realizada homenageando o criador da teoria da evolução: Darwin, que poderá ser visitada até 29 de maio de 2006, em Nova York.

E segundo o Spiegel Online, as organizações científicas mais importantes dos Estados Unidos – a Academia Nacional de Ciências e a Associação Americana para o Progresso da Ciência – declararam não existir a mínima base científica nas novas teorias propagadas.

Os alemães também reagem

No Deutsches Hygiene-Museum, de Dresden, poderá ser visitada, até 23 de julho de 2006, a exposição Evolução. caminhos da vida (Evolution. Wege des Lebens), mostrando os efeitos da evolução sobre o homem, a sociedade e a vida no nosso planeta.

E como afirma o professor de Teologia da Universidade de Tübingen, Hans Küng, tanto as Ciências Naturais como a Teologia devem reconhecer suas fronteiras.

Criticando a posição dos defensores do "desenho inteligente", que acreditam que um ser maior direciona a evolução, o professor afirma que a questão da fé também poderia ser levada às constantes da natureza, como por exemplo, a velocidade da luz.

O fato de elas existirem não significa necessariamente a existência de um Deus, atrás de todas as leis da natureza. Isto é uma questão de fé e não de ciência, afirma o teólogo.

Carlos Albuquerque, para Deutsche Welle

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