quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Ataques em Gaza mataram 205 crianças, dizem palestinos


Heather Sharp
de Jerusalém para a BBC

Os últimos números divulgados pelas autoridades palestinas do setor de saúde informam que 205 crianças estão entre os cerca de 600 mortos na ofensiva na Faixa de Gaza.

O número de crianças entre os 2,9 feridos ainda é desconhecido, por causa do caos que se instalou no território palestino.

Enquanto os médicos trabalham sem pausa para tentar salvar o máximo de crianças, psiquiatras infantis na Faixa de Gaza e no sul de Israel temem que algumas crianças nunca se recuperem dos danos psicológicos causados pela violência do conflito.

Iyad Sarraj, diretor do Programa Comunitário de Saúde Mental da Faixa de Gaza, afirmou que "muitas pessoas" estão ligando para os funcionários do centro, mas o escritório da organização teve que ser abandonado depois que um ataque aéreo de Israel danificou janelas e móveis do local.

"Está realmente terrível para as crianças agora. Já passei por muitos episódios como este, mas este é o pior", afirmou.

Trauma

Sarraj conta a história de um menino que tratou há cinco anos. A casa dele foi atingida em um ataque aéreo contra um militante do Hamas, que vivia na casa vizinha à dele.

Tateando no escuro depois do ataque, o menino encostou a mão em algo molhado.

"Ele percebeu que era a carne da irmã, que ficou em pedaços (depois do ataque). Ele não conseguiu comer ou sentir cheiro de carne durante três anos. Tenho certeza de que ele vai sofrer algum impacto psicológico em longo prazo."

"Este tipo de coisa deve estar acontecendo agora, enquanto conversamos", afirmou.

Sarraj não consegue sair de casa devido aos combates na Faixa de Gaza e, por isso, não consegue visitar os hospitais, mas tem visto pela televisão as imagens de crianças traumatizadas e feridas.

"Estas crianças precisam de ajuda, mais do que qualquer outra pessoa. Elas parecem assustadas, horrorizadas e desnorteadas. Elas precisam de muita atenção, mas não podem receber, pois suas famílias também estão aterrorizadas", afirmou.

Choque

Salwi Tibi, da agência humanitária Save the Children e que vive ao norte da Cidade de Gaza, perto dos confrontos terrestres mais intensos, está monitorando o impacto nas crianças.

Tibi conta sobre um menino de dois anos e meio de Beit Lahiya, local onde estão ocorrendo combates intensos, que foi levado para um hospital já sem vida.

"Ele não estava ferido, estava bem de saúde. Os médicos me disseram que a criança morreu devido ao choque causado pelo som do bombardeio", afirmou.

Tibi afirma que sua própria filha, Malak, de 7 anos, é um caso típico de criança afetada pela guerra. Malak começou a molhar a cama no primeiro dia dos ataques aéreos.

"Onde quer que eu vá ela me segue - até ao banheiro. Assim que ela ouve o bombardeio, (...) fecha os olhos e grita 'parem, parem'", afirmou.

"Se eu tivesse um computador, deixaria que ela ouvisse música, brincasse com os jogos, para esquecer, mas não há eletricidade, tudo está silencioso, então tudo o que ela ouve são os bombardeios", acrescentou.

Israel

Os mesmos sintomas podem ser observados em crianças de Sderot, a cidade do sul de Israel perto da Faixa de Gaza que foi atingida por 10 mil foguetes palestinos nos últimos dez anos.

Quatro pessoas morreram e outras 100 ficaram feridas na região desde o início da ofensiva. Não há estatísticas para o número de crianças, apesar de uma vítima ser um bebê ferido no rosto.

Dalia Yosef, psicoterapeuta e diretora do Centro de Resistência local, afirmou que sua carga de trabalho aumentou antes e durante os combates.

Qualquer criança da cidade que tenha menos de 8 anos de idade conhece a vida com apenas 15 segundos para chegar a um abrigo quando as sirenes disparam.

"A criança não tem experiência de mundo com segurança - a casa não é segura, o quintal, a creche... isto influencia todo o ciclo de vida da criança", afirmou.

Yossi Haimov, 10 anos, estava brincando fora de casa com sua irmã de 8 anos quando foi atingido por um foguete Qassam em fevereiro de 2008.

"Despedaçou a mão dele, ele não pode usá-la. O osso foi completamente destruído do ombro para baixo (...). Ele ainda está traumatizado", afirmou o pai, Tashkent Haimov.

Yossi costumava jogar futebol, mas agora a criança não se aventura para fora de casa temendo ser machucado e tem ataques de pânico.

Uma pesquisa realizada em Sderot concluiu que 30% das crianças da cidade mostram sintomas de estresse pós-traumático.

Iyad Sarraj relata que cerca de um terço das crianças da Faixa de Gaza apresentam sintomas psicológicos que precisam de tratamento.

Um comentário:

  1. Muito bom blog... é disso que precisamos, de ter novas fontes de informação... virei por aqui sempre... um bom 2009.

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